Por: Yri Maya
Sexta-feira, 16 de novembro, é mais um dia normal de trabalho no Mercado Modelo, situado na Praça Cairu, Cidade Baixa, em Salvador. Por lá, muita movimentação e os vendedores com seus pregões. Etelvino de Souza há 38 anos trabalha com vendas de artesanatos. “O que eu mais vendo, são os chaveiros de talha de madeira e os berimbaus que são bastante procurados,” declara, já na questão da valorização da cultura baiana, seu Etelvino é bem ríspido: “As pessoas que mais valorizam nossa cultura são os turistas. Vem muito argentino para conhecer o Mercado. Mas na realidade, os que mais compram e levam sacolas e mais sacolas são os turistas brasileiros, cariocas, paulistas, dentre outros”.
Tiago Barbosa, 25, é o mais novo vendedor de artesanato do Mercado Modelo. Ele trabalha nesse ramo há dois anos. “Vendo artesanatos do Brasil todo, não só da Bahia, mas os produtos que mais interessam aos turistas são as lembrancinhas: chaveiros, bolsas, acessórios. Porém, o artesanato mais procurado é tudo aquilo que leva a cara da Bahia, o que faz parte da nossa terra, como cangas e miniaturas de berimbaus,” declara.
Pela tarde, o Mercado Modelo fica mais cheio, são muitas pessoas, olhando e comprando. Mas o que mais se vê dando valor à cultura baiana são os turistas de diversos lugares. “Raramente vem algum baiano, eu conto de dedo se tiver algum, mas quando aparecem aqui no Mercado Modelo se surpreendem. Porém na verdade, quem mais vem aqui são os brasileiros, do Rio de Janeiro e de São Paulo e por aí vai,” confessou Tiago.
Rendas
Além desses tipos de artesanatos, são comercializadas muitas peças de roupas de vários tipos de tecidos. Edvânia dos Santos, há seis anos trabalha com moda artesanal no mercado. “Meus trabalhos são mais manuais, tem muito vestido de crivo e rendados que são mais valorizados pelos turistas,” declarou.
Sandra Lobo, turista de São Paulo, estava com a filha Lorena, de cinco anos e parecia estar surpreendida com tantos materiais rendados. “Cada tenda em que entro me surpreendo ainda mais, estou em busca de vestidos rendados, artesanatos de tecido variado. Cheguei hoje a Salvador e já estou me animando com o que vejo,” declara.
Quadros, imagens de orixás e colares de contas chamaram atenção da turista Silvânia Reis. Ela que veio de Vitória da Conquista contou como ficou admirada. “Nossa! É a primeira vez que venho aqui no Mercado Modelo e me entusiasmei com os quadros que retratam a cultura baiana. E pela manhã já fiz algumas compras,” revelou.
Correria
Em vários momentos os vendedores chamam clientes para suas tendas e alguns ficam nervosos por ainda não terem vendido seus artesanatos. Na barraca de Dona Adriana Rocha não é a mesma coisa. “É realmente corrido o nosso tempo. Mas é gracioso atender a todos. Minha barraca é voltada para todo tipo de artesanato, cangas, toalhas de mesa e redes,” declarou, porém sobre os visitantes ela revelou: “a verdade é que os baianos acham caro as mercadorias e não as valorizam. Já os turistas, esses procuram diversidades em artesanatos e dão mais valor”.
Porta-retratos e telas mostrando o samba do Pelourinho são comercializados na tenda de Lenne Flores. Ela trabalha há sete anos e já trocou de ramo uma vez. “Aqui no Mercado Modelo já trabalhei muito com tecidos e agora estou na área de diversos artesanatos, tais como esculturas, fitinhas do Senhor do Bonfim, colares de madrepérola, pinturas de baianas com seus tabuleiros,” Lenne também falou da preferência de atender turistas brasileiros.
“Para mim os turistas vindos de outros estados do Brasil estão comprando mais. De baianos mesmo só as pessoas mais velhas, porque jovens não aparecem por não encontrarem o que eles gostam.”
Como a música é sempre presente na cultura baiana, dentro do Mercado Modelo não é diferente. Seu Jairo Silva trabalha com artesanato desde menino, mas agora está no ramo dos instrumentos musicais de percussão e a cada instrumento a que vai se referindo ele toca. “A cuíca é um instrumento raro aqui na Bahia e estou vendendo mais,” e comentou sobre os turistas que se interessam por percussão. “Muitos turistas brasileiros vêm aqui procurar pandeiros, atabaques, mas poucos são baianos. Aposto que você não é baiana e ri”.
Muito bem humorado, ele explicou sobre os outros instrumentos que mais interessam não só os brasileiros, como aos estudantes de música da Bahia. “O que eles mais procuram aqui são os paus de chuva, caxixis e queixada”.
Mas seu Jairo também vende carrancas de todo o tipo; pequena, grande ou até mesmo em miniaturas. “Muitos consideram que a carranca tira o mau-olhado, por isso alguns compram para colocar em casa e se proteger, o candomblé também escolhe a carranca para livrar-se dos males,” declara.
Para quem quiser conhecer o espaço e se integrar mais aos costumes da cultura baiana, como a música, a arte, artesanato, os nossos ritmos, as nossas danças é só se programar, além das barracas, tendas e vários bares, existem também no Mercado dois restaurantes especializados na culinária típica da Bahia. São os restaurantes: Maria de São Pedro e Camafeu de Oxossi.